O que é a arte e onde ela deixa de sê-la?

Quando o mundo descobre o poder da nova atualização (gratuita) do ChatGPT, eu me pego no meio de um grande dilema: posso gostar da arte? Posso chamar de arte aquela coisa, ali, que está desonrando o que o Hayao Miyazaki representa?

Ok, Hayao Miyazaki não gosta de IA. Ele acha horrível. O argumento tá tão, tão repetido que mais parece que nem deveria estar ali mais. Já passou pra novilíngua, o argumento por si só parece ser uma palavra única na qual apenas repetimos sem saber o que significa. Eu deveria, de fato, querer honrar o Hayao Miyazaki? Não é essa a discussão. Decidiram que, agora, o que importa é: não é arte. É. Decidiram que não é arte. Decidiram, ponto final, que como não tem uma alma fazendo nada do que está sendo visto ali... não é arte. Meio arbitrário.

Em meio a um tipo de ensaio, me pergunto o que define a arte. Alguns, quando criticando a IA, dizem que não é arte pois não respeita proporções, tem um número de dedos muito alto...

Também me foi dito que não é arte porque apenas está pegando o que alguém já fez antes. Isso, leia bem a frase, está adaptando, logo, não é arte. Posso jogar da janela basicamente todos os trabalhos de design do mundo.

Não é o que eu queria estar falando agora, mas o argumento de decidir que não é arte é algo tão, tão filosófico e metafísico que basicamente parece que jogaram pela janela qualquer aula de história da arte possível. Agora, não é arte porque decidiram, arbitrariamente, o que é arte ou não. De repente, parece que somebody that i used to know não é arte, nem as músicas da Adele, nem nada que já foi remixado, editado, adaptado. Não há arte nenhuma: tudo está, de fato, baseado em algo.

Quando eu digo para meu computador que quero que duas músicas tenham o mesmo tempo (e meu Logic Pro realiza muito bem o meu pedido), talvez não seja arte porque meu computador fez maior parte da coisa por mim. Fez tudo que poderia ser lógico e, eu, só recortei algumas partes. Como isso pode ser arte? Onde eu estou acertando ou errando demasiadamente enquanto conheço DJs que vivem de fazer set, isso é arte? Alguma coisa é arte, de fato?

Isso é um discurso que vai totalmente contra a ideia de arte. Sim, eu cravo aqui, de uma forma arbitrária da mesma forma com que está sendo cravado o contrário: O ESTÚDIO GUIBLI DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É ARTE, queira eu ou queira não. O que está consagrando como arte, como muitas escolas e vertentes sugerem, é que um indivíduo está parando para refletir se é arte ou não.

Paro para analisar o quanto que a arte de IA está sendo destrutiva para o mundo e ferindo valores que estavam preestabelecidos. A arte, mais uma vez, vem sendo paga às custas da população pela burguesia para satisfazer seus próprios fins: o produto não é a arte, são os meus dados para treinamento que eu estou oferecendo para a OpenAi. Tal qual um bom Leonardo da Vinci que, à sua época, já devia estar abrindo cadáveres ou chupando o maior número de paus pequenos possível, vivendo de ver como os gominhos de um abdômen reagem apontando para cima.

Cria-se um ambiente terrível e destrutivo no qual não podemos simplesmente "não gostar" de algo: ou é o anticristo, ou estamos errados. Precisamos achar motivos para odiar, a todo custo, a arte de inteligência artificial, e dessa vez conseguimos achar o grande anticristo: o mundo está sendo destruído. Água sendo jogada fora, árvores queimadas, mas realmente deixa de ser a arte?

Aqueles que não gostam, e eu juro que entendo esses motivos e não quero diminuí-los, fracassam miseravelmente ao analisar os traços, dizer que sentiu repulsão e logo após, dizer que não é arte. Pode ser qualquer coisa, pode ser desprezível, mas dizer que não é arte depois de dizer, letra a letra, que sentiu um emaranhado de emoções... não é plausível.

Hayao Miyazaki não gostou, sentiu nojo, desprazer da vida... logo, não é arte? Hayao Miyazaki define o que é arte? Ou pior, o gosto de alguém define o que é arte ou não?

Podemos partir logo para a parte que falamos que o pixo, o funk, o remix, toda a obra que não gostamos por motivos bem, bem específicos, não são arte? Opa, aí não.

Eu faço questão de trazer esses tópicos, ainda que eles não sejam os mais corretos, porque o material deveria estar sendo discutido. As empresas que recebem mais de x mil/mês, figuras políticas, instituições de ensino, deveriam estar, sim, recebendo ordens de "não faça arte de IA, contrate um artista". De resto, realmente é esse o inimigo do dia? Arte feita com IA que receberá o selo de "não é arte" por pessoas que sentiram ódio e repulsa (justificáveis) ao vê-la? Se isso não é arte, o que é?