Enquanto escrevo isso, lembro das duas vezes em que fui ver o filme musical de Meninas Malvadas. Problemas foram apontados aos montes na divulgação, que pareceu esquecer de anunciar como um musical de fato e começou a trazer como se fosse um filme normal— coisa que não é.
Meninas Malvadas (2024) é a adaptação cinematográfica do musical da Broadway baseado no filme de 2004, o que indica aos montes que quase nenhuma parte do filme vai te surpreender no quesito de história. A obra de 2024, por sua vez, me encanta profundamente como bom apaixonado por musicais que sou, mas ainda me deixa um grande problema: a protagonista não é dona de seu filme.
A protagonista, para mim, é uma das piores coisas desse filme. Cady já é uma personagem difícil de gostar, mas a adaptação com as músicas enxugadas do musical da Broadway não deram à protagonista seu devido protagonismo. O sentimento recorrente é que Cady é o grande osso do ofício para esse filme acontecer: já não poderíamos ter um Meninas Malvadas bom o suficiente sem a garota do Quênia? O que realmente nós perderíamos em uma adaptação sem ela, já que os “coadjuvantes” Damian (Jaquel Spicey) e Janis (Auli’i Cravalho) mandam muito bem no que estão fazendo a ponto de ofuscar a protagonista em todos os momentos possíveis?
Isso não é uma reclamação sobre os coadjuvantes, pelo contrário: enquanto Auli’i já interpretou Moana, onde seu canto lhe rendeu boas premiações e indicações, Jaquel foi indicado ao Grammy pela gravação de estúdio do musical A Strange Loop, que protagonizou na Broadway. São grandes nomes, o que só aumenta mais ainda a ideia de que eles são esnobados quando não lhes é dado a chance de protagonizarem, sem a ruivinha, o filme por si só. A química dos dois é excelente enquanto Cady (Angourie Rice) falha muito— creio que mais por demérito do roteiro da adaptação que da própria atriz.